(ilustração: Frank R. Paul)
Histórias
de ficção científica situadas no futuro geralmente se dividem em histórias de
“futuro próximo” e de “futuro remoto”.
Se estamos em 2012 e meu romance se passa em 2035, trata-se de um futuro
próximo, em que o Brasil, a Terra, os países, a tecnologia etc. serão
certamente bem parecidos com os atuais, ressalvando-se as mudanças imaginadas
pelo autor. Por outro lado, se eu
ambiento meu romance no ano 25.000 estarei visualizando uma Terra completamente
imaginária, porque não há como fazer suposições cabíveis sobre o estado da
Humanidade daqui a tanto tempo. Tudo fica a cargo da liberdade imaginativa de
cada autor. Ambos os “futuros” têm o seu charme, o seu interesse, e podem gerar
boas histórias. (Pessoalmente, prefiro
ler e escrever histórias de futuro próximo, mas alguns dos melhores livros que
li foram de futuro remoto).
O
pessoal do saite “io9” se deu o trabalho de responder uma pergunta
interessante: que tipo de futuro foi mais escolhido pelos autores de FC em cada
época? Eles explicam que o levantamento
feito não é científico, pois computou apenas 250 obras (livros, filmes,
quadrinhos) escolhidas aleatoriamente, e lançadas entre as décadas de 1880 e
2000. (Acredito que um levantamento minucioso nos dará resultados bem
diferentes; mas vamos dar valor ao esforço da rapaziada.) E estabeleceram 3 tipos: Futuro Próximo (até
daqui a 50 anos), Médio (entre 50 e 500 anos) e Remoto (de 500 em diante).
Eles
mostram num infográfico (http://on.io9.com/LkyWqK)
que nos anos 1880, por exemplo, houve 13% de obras de Futuro Próximo, 52,2% de
Médio e 34,8% de Remoto. Algumas décadas
são especialmente interessantes: as maiores incidências de obras sobre Futuro
Próximo são nas décadas de 1900 (53,8%) e 1980 (59,2%). Histórias ambientadas num Futuro Remoto
tiveram seu auge na década de 1930 (48%) mas nos anos 1990 caíram para
espantosos 2,7%, o menor índice de toda a pesquisa. O Futuro Médio é o mais consistentemente
explorado nessa amostra, tendo tido metade ou mais das obras em 5 diferentes
períodos (o Futuro Remoto, por sua vez, nunca foi maioria).
O
que dizem estes números? Poucas coisas, e não muito confiáveis (pela pequenez
da amostra), mas se algumas dessas tendências se confirmarem num estudo mais
sério elas indicam que a FC vem se preocupando muito mais com futuros extrapolados
a partir do presente do que com futuros totalmente arbitrários e imaginativos.
Isso nada nos diz sobre a qualidade literária dessas obras, mas diz bastante
sobre a “história das mentalidades” das pessoas e das épocas envolvidas. Seu
interesse e sua aplicação não são de natureza estética, apenas sociológica.