Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 17 de março de 2012
2820) Dickens Digital (17.3.2012)
(Charles Dickens no começo da carreira)
Livros de papel ou livros digitais? Até parece o debate na Idade Média sobre a quantidade de anjos que era capaz de dançar na ponta de uma agulha (agora são pixels e bytes). Há partidários eloquentes e extremados de ambos os lados da discussão. Num artigo no Guardian (http://bit.ly/yJfVK9), Henry Porter comenta algumas declarações recentes do romancista Jonathan Franzen, para quem o papel impresso dá uma sensação de continuidade e permanência, enquanto que a tela digital parece conter apenas um texto provisório, que pode vir a ser modificado a qualquer instante. E Porter faz uma comparação com Charles Dickens, cujos 200 anos de nascimento comemoram-se este ano.
Dickens foi, como muito escritores de sua época, um palestrante incansável. Viajava pelo mundo fazendo palestras, para auditórios repletos, porque seus livros eram best-sellers. Foi um desses escritores cujo sucesso popular deixa a crítica de pé atrás, como ocorreu com Balzac, Jorge Amado e tantos outros. Porter comenta: “Nos últimos anos de sua vida, Charles Dickens caiu na estrada para cumprir uma extenuante agenda de leituras públicas, que certamente apressaram sua morte. Na magnífica biografia que fez sobre o escritor, Claire Tomalin descreve como ele se arrastou de auditório em auditório, sozinho exceto pelos personagens que carregava na mente: alquebrado, mal alimentado e mortalmente exausto, mas com uma urgente necessidade de se comunicar com seus leitores. Essas leituras, precursoras das modernas festas literárias, nos lembram que o objetivo primordial de um romancista é entrar em contato com pessoas. (...) Se Dickens fosse vivo hoje, adivinhe quem estaria blogando, tuitando de vez em quando, montando websaites literários, exumando algumas obras antigas e recolocando-as em circulação sob a forma de e-books. Dickens detestava muitos dos seus editores, que ele considerava parasitas preguiçosos e desonestos; e ele ficaria entusiasmado com todas as oportunidades que temos hoje de fazer uma conexão direta entre autor e leitor”.
Escritores são indivíduos, cada um tem seu jeito, sua índole. Não é por terem a mesma profissão que têm a mesma personalidade. Alguns adoram falar em público e dar entrevistas; outros detestam. Alguns querem ter controle total e estrito sobre cada linha que escrevem, e querem controlar cada centavo que entra e que sai; outros querem semear livros à mancheia para atingir o maior número possível de pessoas, e se no meio do processo conseguirem o suficiente para viver com um pouco de conforto, ficarão felizes. Ao que tudo indica, estes últimos sobreviverão melhor, e serão mais felizes, nos tempos que estão chegando.