Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 3 de dezembro de 2011
2730) A corrente e os elos (3.12.2011)
A frase mais famosa atribuída a Sherlock Holmes, “Elementar, caro Watson”, nunca foi pronunciada por ele (parece que a frase surgiu num filme, e não nos livros de Conan Doyle). Falarei de outra frase, esta sim, incluída num livro de Doyle, e pronunciada pelo Dr. Watson. No livro O Vale do Terror, os dois amigos estão comentando a traição de um bandido da quadrilha do Prof. Moriarty, que passa informações para Holmes, às escondidas. E Watson comenta: “Pois é, nenhuma corrente é mais forte do que o mais fraco dos seus elos”. Basta que um dos bandidos “entregue o leite” para que toda a quadrilha desça pelo ralo.
Essa frase tão perceptiva contradiz a noção generalizada de que Watson era um sujeito estúpido que só servia para “fazer escada” para Holmes. O doutor tem vários momentos de agudeza intelectual que um dia me darei o trabalho de reunir num alentado artigo. Por enquanto, basta registrar que se você tem uma corrente com centenas de elos feitos de aço inoxidável e um de papel, de nada adianta o aço da maioria, porque é no papel que ela vai se partir ao primeiro puxão. Em termos de engenharia isto pode ser um problema mas pode também ser uma solução – foi assim, talvez, que os eletricistas inventaram o conceito de fusível, uma coisa mais fraquinha que pipoca no primeiro problema e desliga todo o resto, mantendo-o intacto.
Quando inventaram a Internet e a World Wide Web, o conceito principal por trás dessa inovação era justamente a de que não importava qual o ponto dessa rede que fosse desligado, por acaso ou de propósito; o fluxo de informação continuaria passando. Numa corrente linear, onde toda a informação tem que passar necessariamente por cada um daqueles elos, basta um dele se romper para o fluxo ser detido. Numa malha ou rede (web), a informação, ao chegar nesse ponto, pode ser desviada lateralmente, rodeando o “elo rompido” e voltando ao trajeto normal logo adiante, como quem faz um desvio diante de uma ponte desmoronada e logo adiante volta à rodovia.
Retomando os termos do dr. Watson, podemos dizer que uma rede é uma combinação de correntes lineares que se reforçam umas às outras, de modo que se um elo for mais fraco que os demais o seu rompimento não prejudica a solidez do conjunto. Daí que o termo “roteamento” seja tão importante no mundo internético. Rotear é dirigir o fluxo de informação, e poder fazer isso, quando um “elo” se rompe, por um caminho diferente do que estava sendo feito um segundo atrás. Numa corrente linear, o roteamento só tem uma direção por onde seguir, sem alternativas, o que a torna de fato a mais frágil das opções para a transmissão de informações.