Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
2615) O tempo não para (22.7.2011)
No filme Uma Mente Brilhante, Russell Crowe interpreta John Nash, o matemático esquizofrênico que, já na idade madura, enclausurado em si mesmo pela doença, acabou recebendo o Prêmio Nobel de Economia por causa de uma teoria que desenvolvera na juventude.
No filme, Nash tem fantasias recorrentes, incessantes, em que está sendo cooptado para trabalhar em projetos de espionagem para o governo, ajudando a decodificar mensagens da URSS. Sua loucura cria também amigos imaginários que o acompanham durante a vida inteira.
Um momento comovente do filme é quando ele descobre, por conta própria, que está doido – porque uma pessoa com quem ele convive há anos continua sempre com a mesma idade! Mesmo já tendo se passado uns 20 anos desde que ele a conheceu, a sobrinha de um amigo seu continua uma garota de dez anos. E Nash percebe que está louco, que aquela pessoa não existe, é uma alucinação paranóide.
A loucura é uma entre várias disfunções mentais, e tudo são tentativas de descrever situações em que partes da nossa mente deixam de dialogar com outras, ou estacionam no tempo enquanto o restante evolui.
Todos nós sabemos exemplos de crianças que por um problema qualquer têm seu desenvolvimento interrompido num certo estágio, e vivem o resto da vida com uma idade mental estacionária. Não são loucos; são diferentes. (Acho que falta a Ciência investigar casos curiosos em que um cara de 50 anos estacionou numa idade mental de 25, e reclama que os outros não o compreendem.)
Achamos que só é real (realidade física, consensual) o que está submetido às leis do tempo. Nos contos de fadas e narrativas folclóricas, se um personagem tem acesso ao Reino das Fadas, ao Mundo Subterrâneo, etc., ele constata que ali o tempo não corre no mesmo ritmo que no mundo real.
Thomas the Rhymer vai para o Reino das Fadas para uma festa no castelo, e quando volta ao mundo real na manhã seguinte descobre que sete anos se passaram. A festa no castelo das fadas é de certa forma a fantasia em que a mente fica aprisionada, entretida consigo mesma, enquanto do lado de fora o tempo não para.
Viver é aceitar envelhecer? Sim, mas não no sentido de aceitar passivamente a decadência ou a deterioração de si mesmo. Viver é acompanhar a passagem do tempo, o desaparecimento de algumas coisas, a permanência de outras e o aparecimento de mais outras.
Quando era jovem e antissocial, Nash criou uns amigos imaginários com quem mantinha conversas silenciosas, amigos que diziam o que ele gostava de ouvir, que lhe davam conselhos, etc. Era essencial, para sua fantasia, que esse amigos ficassem sempre do jeito que eram. Vê-los crescer, envelhecer e mudar seriam uma fonte a mais de insegurança e angústia.
Nash percebeu que eles não existiam quando percebeu que para eles o tempo não passava. Tudo que é imune ao tempo existe apenas na mente, que é, curiosamente, o único lugar em que o Tempo pode ser acessado da forma randômica, não-linear.