Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
domingo, 3 de outubro de 2010
2363) Contracapa de vírus (3.10.2010)
(Jock Cooper, Fractal)
& uma orelha não identificada, congelada num freezer de hospital & fazer literatura é capinar no basalto & tem certas freiras que eu sou capaz de apostar que estão de cinta-liga preta e fio-dental ali por baixo & tô vendo a hora Ringo e Paul contratarem dois caras quaisquer e anunciarem uma turnê por 120 países & passe certo não é só o que chega no pé do companheiro, é o melhor passe possível de executar naquele instante & a água da praia está tão transparente que dá para ver as garrafas vazias e as fraldas descartáveis no fundo & vi agorinha mesmo uma nuvem em forma de bebê, durou mais do que muitos bebês & voltar pra casa sozinho com o troféu embaixo do braço, botar o troféu sobre a mesa da cozinha, ficar olhando pra ele e tomando a primeira & vou encomendar uma estátua de São Francisco rodeado de abutres, de hienas, de centopéias & uma fita métrica se arrastando pelo chão e depois se erguendo como uma naja & o coelho aprendeu a dar nó nas orelhas sem tocar nelas, e um crítico disse: “não entendi!” & se houve um japonês que sobreviveu às duas bombas nucleares, melhor não ficar me preocupando com coisas de pouca monta & vou bater você no liquidificador e pintar seu caixão por dentro & o que falta a certos escritores de FC é só um pouquinho de dicção científica & uma adolescente com uma tatuagem-néon subcutânea piscando o letreiro FUCK ME & pena que a gente não possa dar um clique nas 9 da manhã, selecionar até as 3 da tarde, cortar e emendar as duas pontas & Deus me poupou as úlceras da Fama, as concessões da Fama, os micos da Fama & eu acho a minha impressão digital a minha cara & estou ressequido, encarquilhado, me esfarelando, o que fiz de toda aquela água? & bem, obrigado, canibalizando as sucatas de mim mesmo & tem gente que só sorri porque é um pretexto para mostrar os dentes & eu gostaria de ver um filme que começasse mudo e terminasse sonoro & nas calçadas avançamos lentamente, por entre a areia movediça do verão & matar uma barata, de algum modo, nos nivela & tem arsênico? então me dá um chope & vou inventar uma religião tão complexa que o mantra usado para meditação será um polissílabo & Fulano já vivia tão doido que pegava uma nota de 100 reais, enrolava em canudo, e fumava & quando falam em OVNIs eu digo: “justamente! por que tem esquilo em todo canto e no Brasil quase não tem?! quem levou nossos esquilos, e para onde, e com que finalidade, meus amigos?!” & todo tiro de meta é um investimento a longo prazo & certos poemas são como as moléculas de um cristal, a forma é aquela e não tem como ser outra & tem gente que passa a noite roubando carros e abandonando dez minutos depois, só pela adrenalina da coisa & passamos tanto tempo comemorando efemérides de 50 anos atrás que perdemos a chance de produzir efemérides para daqui a 50 anos & às vezes é melhor rir de mim mesmo do que não rir de nada, do que chorar a esmo &