Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
2343) Os melhores artigos da imprensa (10.9.2010)
Pulando de link em link vim cair nesta página assinada por KK (Kevin Kelly), sob o nome de CoolTools (http://www.kk.org/cooltools/the-best-magazi.php), em que ele relaciona (com links diretos) os 100 melhores artigos jornalísticos publicados na imprensa (de língua inglesa). Seria interessante que alguém igualmente bem informado e bem assessorado (Kelly no final agradece as dicas de umas 50 pessoas) fizesse uma lista parecida com os melhores artigos da imprensa brasileira. Material não falta.
Isto tem a ver com uma crise que já abalou a imprensa com o surgimento da TV nos anos 1950, e agora de novo com o surgimento da Internet nos anos 1990. O que pode fazer a imprensa impressa (valha a redundância) para sobreviver? A resposta tem sido sempre algo tipo: ser mais profunda, mais extensa, preocupar-se menos com a informação e mais com a interpretação, caprichar mais no aspecto literário para sobreviver como texto estético mesmo depois de sua importância factual esmaecer um pouco. Os 100 artigos listados por Kelly são bons exemplos disso.
Quando vi a página, fiquei meio animado, achando que iria reencontrar velhos conhecidos, mas dos 100 só me lembro de ter lido quatro. Li o clássico ensaio de Susan Sontag “Notes on Camp”, publicado na Partisan Review em 1964 (li em livro, claro). Li (anos depois) a entrevista que Nat Hentoff fez com Bob Dylan para a Playboy em 1966. Li a matéria, na revista Wired (1995), em que Gary Wolf narra a luta quixotesca de Ted Nelson, o homem que inventou o hipertexto, para criar o projeto Xanadu, uma utopia internética que não deu certo. E li o texto de Neal Stephenson, também na Wired (1996) sobre a instalação dos cabos trans-oceânicos de fibra ótica, uma verdadeira odisséia tecnológica narrada pelos olhos de um autor de ficção científica.
Cada um destes valeu, linha por linha, o preço eventualmente pago. Mas lendo a lista completa vi referências a matérias que os coleguinhas jornalistas citam de vez em quando como exemplos do que se pode fazer juntando o melhor da literatura e do jornalismo. Por exemplo: a clássica reportagem de Gay Talese, “Frank Sinatra has a cold” (Esquire, 1966), em que Talese fez um retrato do cantor sem que este se dignasse a falar com ele (mais ou menos como Ruy Castro, que escreveu Chega de Saudade à revelia de João Gilberto). Tem os artigos clássicos de Hunter Thompson, “Fear and Loathing in Las Vegas” e “The Great Shark Hunt”, que li parcialmente, e por isso não conto, mas recomendo. Tem o artigo de Ron Rosenbaum sobre J. D. Salinger (“The Man in the Glass House”, 1997), que voltou a ser citado agora quando da morte do escritor. Tem o texto de Cameron Crowe que certamente inspirou seu filme Quase Famosos: “The Allman Brothers Story” (Rolling Stone, 1973). E muita coisa mais. Por que a gente não monta um saite com indicações (e links) para os melhores artigos brasileiros de revista e jornal? Que tem, tem.