(Paulo César Caju)
Um repentista comentou comigo certa vez: “Tem três profissões onde a pessoa tem até os trinta anos pra ganhar dinheiro, porque depois disso é só prejuízo: jogador de futebol, cantador de viola e rapariga”. Existe uma verdade poética nessa frase, embora do ponto de vista factual não seja uma verdade científica. O autor dela, por exemplo, está hoje na casa dos 60, e provavelmente ganha mais do que quando a proferiu. Sobre as praticantes da “mais antiga das profissões”, não disponho de dados estatísticos. E no futebol a longevidade dos jogadores aumentou tremendamente. Nem me refiro a casos peculiares como o de Romário. O time do Milan, recente campeão mundial interclubes, é composto quase todos de trintões, sendo Kaká, aos 25 anos, quase um mascote.
Revi há pouco na TV um episódio da série “Futebol” dirigida por João Moreira Salles, enfocando o cotidiano do ex-jogador Paulo César “Caju”, que foi craque do Botafogo, Flamengo, Seleção Brasileira e muitos outros times. Paulo César foi um dos primeiros jogadores “pop”. Dirigia carros caríssimos, pintava o cabelo (daí o apelido “caju”), aparecia nas colunas sociais, falava francês, namorava modelos e socialites, dava entrevistas irreverentes onde dizia exatamente o que pensava. A imprensa, desacostumada com aquilo, vivia atrás dele. Não simpatizava muito com ele, porque era na época da ditadura. Paulo César, embora não fosse propriamente um jogador politizado ou questionador como seus contemporâneos Reinaldo, Afonsinho e outros, não abaixava a cabeça. Era o que já vi alguém chamar de “nego metido a branco”, expressão que descreve maravilhosamente o nosso racismo embutido.
Hoje em dia, dois terços dos jogadores de futebol são jogadores pop, ou seja, fazem tudo que Paulo César fazia: pintam o cabelo, dirigem BMW, namoram modelos, saem nas revistas. O que lhes falta, curiosamente – já que vivemos em plena democracia, onde qualquer um pode dizer o que pensa sem medo de ser preso ou perseguido – é a personalidade na hora de falar. O jogador típico de hoje é o robô disciplinado que fala somente em “seguir as instruções do ‘professor’ para trabalhar com determinação em busca do nosso objetivo que é a vitória”, ou o craque marrento, emproado, metido a besta (como Caju também era), mas que parece viver num Brasil virtual composto apenas de estádios, aeroportos e boates. Dou um no outro e não quero volta.
Numa época em que o jogador tinha de ser um cara discreto, vestido com simplicidade, sem esbanjamento, sem consumo conspícuo, Paulo César explodiu o modelo, tornou-se o contrário disto. Hoje em dia, o modelo é o que Paulo César criou, o jogador pop. Falta algum jogador no futebol de hoje que conteste esse modelo consumista, playboy, socialite. Até porque não são poucos os talentos futebolísticos que têm se deteriorado por essa obrigação de frequentar as boates da moda, os acontecimentos sociais, os coquetéis, os bailes, as capas de revistas