Em Seis propostas para o próximo milênio, uma das qualidades literárias que Ítalo Calvino nos propõe deixar para os séculos futuros é a rapidez.
O escritor italiano usa como exemplo de “rapidez literária” os contos folclóricos, material que ele retrabalhou a fundo em seu livro Fábulas Italianas, e que ele define como um campo de força criado pela presença de eventos que se influenciam e se determinam uns aos outros.
Ele dá como exemplo uma história onde o imperador Carlos Magno se apaixona por uma dama, paixão que se prolonga mesmo depois que ela morre. Ele se recusa a separar-se do cadáver, até que um bispo examina a morta e retira de sob sua língua um anel mágico. Quando o anel passa às mãos do bispo, o imperador apaixona-se por este; o anel é atirado a um lago, e o imperador passa a dedicar ao lago sua paixão, nunca mais abandonando suas margens.
Calvino elogia essa “economia da narrativa em que os acontecimentos, independentemente de sua duração, se tornam punctiformes, interligados por segmentos retilíneos, num desenho em ziguezagues que corresponde a um movimento ininterrupto”.
Para ele, a arte do conto é a arte de contrair e dilatar o tempo narrativo, eliminando tudo que é supérfluo, tudo que não traz substância ficcional.
Ele próprio reconhece que nos contos populares o conceito de “supérfluo” é problemático, pois neles tanto surgem saltos bruscos de anos ou séculos, quanto repetições ou enumerações de algo já narrado ou descrito, as quais guardam, no entanto, certo poder encantatório ou musical.
Ao examinar a rapidez na criação literária, Calvino faz uma avaliação que serve com justeza à nossa arte nordestina do Repente:
“A velocidade mental vale por si mesma, pelo prazer que proporciona àqueles que são sensíveis a esse prazer, e não pela utilidade prática que se possa extrair dela. Um raciocínio rápido não é necessariamente superior a um raciocínio ponderado, ao contrário; mas comunica algo de especial que está precisamente nessa ligeireza”.
Ele acredita que tanto a poesia quanto a prosa são uma busca “de uma expressão necessária, única, densa, concisa, memorável”; e que as formas curtas características de nossa época prestam-se (embora não exclusivamente) a esse tipo de expressão.
A rapidez não é inimiga da perfeição, e sim da pressa. Ela é “uma fulguração repentina”, mas que em regra geral implica uma paciente procura do “mot juste”, da palavra exata.
Calvino encerra seu ensaio com a história do pintor chinês a quem o rei encomendou a pintura de um caranguejo. Primeiro ele pediu (além de dinheiro, casa, criados) cinco anos de prazo. Ao fim de cinco anos, sem ter sequer pegado no pincel, pediu mais dez. O rei, impaciente, os concedeu. Esgotado o segundo prazo, o rei foi ao seu ateliê. Ao ver o monarca entrar, o artista o saudou, pegou o pincel, “e num instante, com um único gesto, desenhou um caranguejo, o mais perfeito caranguejo que jamais se viu”.
O escritor italiano usa como exemplo de “rapidez literária” os contos folclóricos, material que ele retrabalhou a fundo em seu livro Fábulas Italianas, e que ele define como um campo de força criado pela presença de eventos que se influenciam e se determinam uns aos outros.
Ele dá como exemplo uma história onde o imperador Carlos Magno se apaixona por uma dama, paixão que se prolonga mesmo depois que ela morre. Ele se recusa a separar-se do cadáver, até que um bispo examina a morta e retira de sob sua língua um anel mágico. Quando o anel passa às mãos do bispo, o imperador apaixona-se por este; o anel é atirado a um lago, e o imperador passa a dedicar ao lago sua paixão, nunca mais abandonando suas margens.
Calvino elogia essa “economia da narrativa em que os acontecimentos, independentemente de sua duração, se tornam punctiformes, interligados por segmentos retilíneos, num desenho em ziguezagues que corresponde a um movimento ininterrupto”.
Para ele, a arte do conto é a arte de contrair e dilatar o tempo narrativo, eliminando tudo que é supérfluo, tudo que não traz substância ficcional.
Ele próprio reconhece que nos contos populares o conceito de “supérfluo” é problemático, pois neles tanto surgem saltos bruscos de anos ou séculos, quanto repetições ou enumerações de algo já narrado ou descrito, as quais guardam, no entanto, certo poder encantatório ou musical.
Ao examinar a rapidez na criação literária, Calvino faz uma avaliação que serve com justeza à nossa arte nordestina do Repente:
“A velocidade mental vale por si mesma, pelo prazer que proporciona àqueles que são sensíveis a esse prazer, e não pela utilidade prática que se possa extrair dela. Um raciocínio rápido não é necessariamente superior a um raciocínio ponderado, ao contrário; mas comunica algo de especial que está precisamente nessa ligeireza”.
Ele acredita que tanto a poesia quanto a prosa são uma busca “de uma expressão necessária, única, densa, concisa, memorável”; e que as formas curtas características de nossa época prestam-se (embora não exclusivamente) a esse tipo de expressão.
A rapidez não é inimiga da perfeição, e sim da pressa. Ela é “uma fulguração repentina”, mas que em regra geral implica uma paciente procura do “mot juste”, da palavra exata.
Calvino encerra seu ensaio com a história do pintor chinês a quem o rei encomendou a pintura de um caranguejo. Primeiro ele pediu (além de dinheiro, casa, criados) cinco anos de prazo. Ao fim de cinco anos, sem ter sequer pegado no pincel, pediu mais dez. O rei, impaciente, os concedeu. Esgotado o segundo prazo, o rei foi ao seu ateliê. Ao ver o monarca entrar, o artista o saudou, pegou o pincel, “e num instante, com um único gesto, desenhou um caranguejo, o mais perfeito caranguejo que jamais se viu”.